Um batuque noctívago

Claro que se passeia sobre o ódio e a destruição e os desastres e os cataclismos, porque um avião caiu, um vulcão espirrou ou um tresloucado lançou-se aos tiros. E passeia-se sobre o amor, e a ternura e o carinho, porque um enamoramento surgiu, um bebé sorriu, um cão vadio nos abanou a cauda como um sorriso.
Se não houvesse assim vida não haveria modo de a viver, nem de saber porque bate o coração. Às vezes bate menos e a alma assusta-se. Mas no essencial ritma como um batuque noctívago em noite de queimadas ou como a placidez morna do poente ao entardecer, melancolia sem tristeza, comoção sem lágrimas, saudade sem ausência